50 tons de cinza e a mulher apaixonada

Penso que o sucesso do livro não gira entorno do universo sadomasoquista do dominador e da submissa. Mas sim, tem a ver com a mulher de hoje. Com um movimento de transitar com mais liberdade sobre o tema das fantasias eróticas.

Diferentemente do clássico da literatura “o amante de lady Chatterley” de D.H Lawrence, livro da época de nossas mães – que tinha de ser lido secretamente, 50 tons de cinza tem sido discutido as claras.

As mulheres conversam sobre o que sentiram durante a leitura,recomendam umas as outras, compartilham. A fantasia sexual que antigamente era vista como algo obscuro, repugnante , pode vir a tona.

As mulheres estão se permitindo sonhar mais, conformar-se menos com uma vida sexual que não as satisfaça. O filme “um divã para dois” retrata bem isso, uma mulher em busca de sentir-se realizada com seu marido, querendo falar sobre essa insatisfação, tentando se lançar contra o conformismo e o tédio .

Tem um pouco de Bridget Jones na personagem de 50 tons, ela é insegura, vive tentando discutir a relação. Sente-se culpada, teme perder o amante. E passa mais tempo sofrendo pelo que sente do que aproveitando esse encontro. Mas isso não é exclusividade de Anna, a maior parte das mulheres é assim. Grey por sua vez , tem um pouco de Richard Gere em uma linda mulher- o rico, sedutor e poderoso que faz tudo por seu objeto de desejo. Levando a em seu helicóptero, ao invés do démodé cavalo branco. Seus encontros são repletos de mistérios e surpresas .Grey passa muito tempo elogiando a personagem, seu cheiro, sua pele . E ao mesmo tempo vive atormentado por fantasmas do passado, estimulando o lado cuidadoso e maternal de Anna. Pergunto-me se o livro faria sucesso se não ficasse claro que ele foi uma criança sofrida. Algo me diz que não. Que ele é adotado pelas leitoras não apenas por suas habilidades sexuais, também por isso.

As mulheres se identificam tanto com a parte insegura de Anna, quanto com a desejosa, curiosa, apaixonada. E nesse olhar apaixonado sim é onde encontramos a submissão. Pois não há coleira mais apertada e firme do que essa.

 

PUBLICADO NA REVISTA RG VOGUE- SETEMBRO 2012

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