Call it magic. Call it true.

“Will you let me romanticise,

the beauty in our London skyies ?

You Know the sunlight always shine ,

behind the clouds of London Skyes ?

Jaime Cullum

 

Tenho uma amiga que foi na cartomante pedindo a volta do seu amado: “Come o nome dele  durante sete dias “, disse a senhora . A jovem apaixonada, formada, madura e bem resolvida saiu de lá decidida: Passou uma semana comendo um papel com o nome do moço, em Jejum. Levantava da cama e numa folha escrevia até sobrenome do eleito. Sim, ele voltou depois de um tempo.

Tem algo de triste e de bonito nessa cena de mulher apaixonada que suplica para um amor não partir. Podia ser eu, uma prima , uma vizinha. Onde há amor, há romance e magia . Toda mulher em algum momento da vida se torna  menos princesa, mais bruxa em defesa do território  do encantamento. Qualquer loucura é justificável para a preservação do sonho. Chico Buarque canta lindamente a cena da mulher abandonada: “dei para maldizer o nosso lar, para sujar seu nome, te humilhar e me vingar a qualquer preço, te adorando pelo avesso… para mostrar que ainda sou tua“ . Mesmo Sheakspeare, se curvou dizendo que entre o céu e a terra não existe fúria maior que a da mulher rejeitada. E a velha Medéia é prova disso.

Achei revolucionário o filme Malévola : A  fada que se vinga do homem que corta suas asas com ferro quente em troca do poder de outro reino. (Será que há imagem mais rica do que essa para falar de amor? Se esse é o  sentimento que rouba nossa liberdade e entrega de bandeja ao outro?). Desiludida, a personagem transforma-se numa bruxa poderosa e vingativa que suaviza sua ira ao entrar novamente em contato com outro amor , o  materno  pela Bela Adormecida. Perfeição politicamente correta lhe falta para ser a protagonista de um conto de fadas, mas sobra humanidade – o que a torna apaixonante para o espectador que perdoa e compreende suas  charmosas travessuras de “bruxa má” e solidário , identifica-se com ela. Afinal, ridículo é quem nunca escreveu uma carta de amor.

Sou de uma geração que cultuava a perfeição das princesas:  Cinderella vitimizada ,a alva pele de Branca de Neve e sua pureza. Tudo muito cindido, o bem contra o mal , bruxas contra príncipes, a Bela e a Fera .  Confesso que fico esperançosa  pelos novos ventos que se apresentam, quando um dos maiores livros de sucesso infantis atualmente tem como título : Até as princesas soltam pum. Tomara que minha filha (se eu tiver uma) não viva em busca de ser perfeita a espera de um príncipe encantado e sem sal . Talvez essa próxima geração escape dessa ilusão do amor perfeito. Talvez.

 A minha ainda sofre dessa herança do sonho de uma vida cor de rosa . A menina que sonhava em ser uma princesa desperta depois de um longo tempo de baladas, maresias e viagens a Bahia dormindo em pousadas-nas quais-toma-se-banho-de-havaianas . Esse despertar se dá ao conhecer um rapaz que novamente a faz acreditar que existe sim um final feliz , que é possível ser uma princesa .

As festas suntuosas de casamento quase enganam as jovens moças  que a vida adulta é pura celebração . Escolha o vestido que você quer minha filha, faça sua lista de presentes , dê uma linda festa, convide todos os seus amigos, vá no melhor maquiador, encha de flores e boa música e bibidibobidiboo : Gire as saias do seu vestido na pista de dança de olhos bem fechados , vai quase ser real. E na volta da lua de mel, que susto! Existe um negócio chamado conta de açougue , o namorado apaixonado é meio bagunceiro , tem que arrumar a cama  e nada disso parece assim tão encantador, depois que a noiva vira abóbora e se torna esposa. Abóbora mesmo, pois na lua de mel engorda-se tudo que emagrece antes de casar.

 Essa lenda do príncipe encantado acaba com o mercado masculino já que ocupa um ideal de impossível competição. Não dá para comparar um marido que vem com mil defeitos (assim como as mulheres) com o príncipe encantado tão sonhado e tão propagado há gerações nos contos de fada.

Mas ninguém contou também que o dia a dia tinha lá seus encantos , escondidos no meio da rotina , de uma dupla que opta por tentar se aventurar no mundo numa parceria , abandonando um universo que anteriormente era  confortável. E que há  também algo de mágico no aconchego de voltar para a casa e ter alguém ali que te desafia a buscar amor todo dia  dentro de si mesmo para suportar a tal da convivência.

O excesso de romance por vezes acinzenta a realidade. Faz com que a gente espere muito do que vem de fora e estrague o que tem, só por que  não é assim tão mágica. Anos  de lágrimas podem ser economizados se essa figura encantada deixar de ser tão importante, tão definidora e puder ser simplesmente uma pessoa, que assim como a gente está tentando se acertar .

Por outro lado precisamos dos clichês , todas as cartas de amor são  ridículas mesmo e sem elas a vida perde o pó de pirilimpimpim. Freud define o sonho como um processo  vital e necessário para que suportemos estar acordados. Isto é , suportamos á realidade pois dela nos retiramos quando sonhamos. Sem a ilusão o mundo gira numa constante repetição, fria e acinzentada.

Assim como Don Quixote precisa de Sancho Pança para fincar os pés no chão , a vida real precisa do romance e da ilusão. Sem esses temperos tudo fica  morno , sem sabor.  De fato: Não há um final feliz no fim do conto de fadas da vida, mas pode haver bons momentos durante o caminho das pedras amarelas, bem ali ,  somewhere over the raimbow  , é só não nos esquecermos de sonhar de olhos abertos.

 

PUBLICADO NA REVISTA AMARELLO ROMANCE

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